Sejamos nós mesmos a paz

Por Shantum Seth 

Nascer do sol no Rio Ganges, India


A  educação holística não pode ser outra coisa senão uma abordagem holística da vida. Com a violência sendo hoje parte de nossas vidas, faz-se necessário que as habilidades para resolução de conflitos de forma não-violenta sejam injetadas gota a gota entre os alunos, através do currículo escolar. Como está escrito na National Curriculum Framework (NCF-2005) [Grade Curricular Nacional da Índia] “o espaço para uma educação de paz está forçosamente aberto”.


O documento diz que a educação de paz deve ser uma preocupação que permeia a vida escolar: currículo, co-currículo, sala de aula, ambiente da sala de aula, administração da escola, relacionamento professor-aluno e uma gama de atividades escolares.

Para citar um exemplo, alguns anos atrás, o diretor da escola Welham Girls em Dehradu sugeriu que eu partilhasse alguns exercícios com suas alunas, que as ajudassem a relaxar durante as provas. Eu ensinei a elas alguns exercícios simples de respirar e andar em consciência plena, que parece ter ajudado. Depois, o diretor da Escola da Embaixada Americana pediu que eu partilhasse um curso de dez semanas com os professores. Os professores dessa escola continuam se encontrando uma vez por semana para partilhar sobre se estas práticas estão funcionando pra eles e como estão sendo partilhadas com seus alunos.

Consciência plena na educação é um avanço excelente do jardim da infância à educação de nível XII. Ela desenvolve habilidades tais como atenção e concentração, consciência emocional e cognitiva e compreensão, consciência corporal e coordenação, habilidades e consciência interpessoais. Isto de várias formas foi base da educação nas culturas de sabedoria da nossa tradição indiana.

A consciência plena está sendo reconhecida, cada vez mais, como sendo um suporte para alunos, professores, administradores de escolas e pais. É um alicerce para a educação, proporcionando ótimas condições para o ensino-aprendizado e apoiando todas as abordagens pedagógicas.

Eu conduzi um exercício simples numa escola que se tornou muito popular entre os alunos. As crianças se revezam para soar um sino antes da aula começar. Quando o sino era soado, todos os alunos e professor da turma paravam o que estavam fazendo para se tornarem conscientes da respiração deles, acalmar e refletir com o foco no presente. Isto é uma parte da consciência plena na educação.

Eu estive liderando oficinas sobre a meditação da consciência plena com professores, alunos e pais para ajudá-los a encontrar o equilíbrio deles. Os professores e pais devem ser ensinados a como administrar suas emoções e a não extravasarem suas frustrações e raiva nas crianças. E as crianças, também, devem ser ensinadas a administrarem o estresse delas. A meditação da consciência plena pode nos ajudar a reviver a alegria de aprender sem o sentimento de estar sob pressão.

A necessidade hoje é a de sermos capazes de transmitir formas de desenvolver estabilidade emocional e tolerância social, além do currículo. De fato, nós devemos tentar integrar aprendizado emocional e social no currículo. Não só os pais e as escolas trabalham juntos para desenvolver uma ética pessoal da criança, mas os professores deveriam também tentar repetir seguidamente os reflexos emocionais corretos através da narração de estórias que podem idealmente estar em sincronia com o livro-texto prescrito.

Para assistir os professores em seus papéis, o sistema educacional precisa se afastar da forte ênfase nas notas acadêmicas e aprendizado adquirido através da repetição. O currículo deve permitir que as crianças cresçam enquanto seres criativos e independentes.

Em resumo: os estudos da paz podem ser um acréscimo importante, mas devem focar não apenas na paz “exterior”, como também na paz “interior”, um meio de tocar a paz, cultivar a paz e ser paz.

Plano de aula:

  1. O desafio fundamental é fazer uma ponte entre sociedade e as dinâmicas de sala de aula.
  2. Estudos da paz nas escolas devem tentar integrar o aprendizado social e emocional nos currículos.
  3. O meio ambiente deve ser incluído como uma matéria curricular, mesmo que seja matéria eletiva.
  4. Educação inclusiva não é somente futurista, é também econômica; é uma decisão baseada em valor. 
Shantum Seth é um Dharmacharya na linhagem do Mestre Zen Thich Nhat Hanh, praticante e estudioso do Budismo.
 
In Times of India, 01 June 2009, Education Times.
Tradução: Tâm Vãn Lang