Em nossa
sanga budista, a comunidade é o cerne de tudo. A sanga é uma comunidade onde
deve haver harmonia, paz e compreensão. Isto é algo criado através da nossa
vida cotidiana. Se existir amor na comunidade, se estivermos sendo nutridos pela
harmonia da comunidade, então nunca nos afastaremos do amor.
A razão pela
qual poderíamos perder isso é porque estamos sempre buscando fora de nós,
pensando que o objeto ou ação do amor está lá fora. Por isso permitimos que o
amor, a harmonia, a compreensão madura, escapula de nós mesmos. Eu acho que este é o ponto básico. Por isso temos que retornar à nossa comunidade e
renová-la. Assim o amor renascerá. Compreensão e harmonia renascerão. Esta é a
primeira coisa.
A segunda
coisa é que nós mesmos precisamos de amor. Não é só a sociedade, o mundo
exterior, que precisa de amor. Mas não podemos esperar que o amor venha de fora
de nós. Deveríamos perguntar se somos capazes de amar a nós mesmos, assim como aos
outros. Estamos nos tratando amavelmente – pela forma como comemos; pela forma
como bebemos; pela forma como trabalhamos? Estamos nos tratando com suficiente
ternura e paz? Ou estamos nos alimentando com toxinas que compramos no
supermercado – no mercado espiritual, intelectual e de diversão?
Então a pergunta
é: estamos
praticando o amor por nós mesmos? Porque nos amar significa amar nossa
comunidade. Quando somos capazes de nos amar, de nos nutrir de maneira adequada,
sem nos intoxicar, nós já estamos protegendo e nutrindo a sociedade. Porque no
momento em que somos capazes de sorrir, de olhar para nós mesmos com compaixão,
nosso mundo começa a mudar. Pode ser que não tenhamos feito coisa alguma, mas
quando estamos relaxados, quando estamos cheios de paz, quando somos capazes de
sorrir e não ser violento na forma de olhar para o sistema, neste momento já
existe uma mudança no mundo.
Então, a
segunda ajuda, o segundo insight, é que não há uma separação real entre o eu e
o não-eu. Tudo o que você faz por si mesmo, você faz para a sociedade ao mesmo
tempo. E qualquer coisa que você faz para a sociedade você faz para si mesmo.
Este insight é feito muito poderosamente na prática da interexistência do eu.
Extraído
do artigo “Building a Community of Love: bell hooks and Thich Nhat Hanh", Shambhala Sun, Janeiro 2000.
Tradução: Tâm Vãn Lang