De 1 a 21
de junho de 2012
Plum
Village, França.
No
Budismo existem dois tipos de verdade: a verdade convencional (S:
samvṛti-satya C: 俗諦) e a verdade última (S: paramārtha-satya,
C: 真諦). No
arcabouço da verdade convencional, os budistas falam de ser e não-ser, nascimento e morte, chegar e partir, dentro e fora, um e muitos,
etc.; e o ensinamento budista e a prática baseada neste arcabouço nos ajudam a
reduzir o sofrimento, e a trazer mais harmonia e felicidade. No arcabouço da
verdade última, o ensinamento transcende noções de ser e não ser, nascimento e
morte, chegar e partir, dentro e fora, um e muitos, etc.; e o ensinamento e a prática
baseados neste insight ajudam os praticantes a se libertarem da discriminação, do
medo, e a tocar nirvana, a realidade última. Os budistas não vêem conflito
entre estes dois tipos de verdades e estão livres para fazerem bom uso de ambos
os arcabouços teóricos.
A física
clássica, como vista nas teorias de Newton, está construída a partir de um
arcabouço que reflete a experiência cotidiana, na qual os objetos materiais
possuem uma existência individual, e podem ser localizados no tempo e no espaço.
A física quântica fornece um arcabouço para se compreender como a natureza
opera em escalas subatômicas, mas difere completamente da física clássica
porque neste arcabouço, não existe algo como o espaço vazio, e a posição de um
objeto e seu momentum não podem ser simultaneamente determinadas com precisão.
Partículas elementares flutuam dentro e fora da existência – elas não existem
no sentido normal – elas têm apenas uma “inclinação para existir”.
A física
clássica parece refletir a verdade convencional e a física quântica parece estar
a caminho de descobrir a verdade absoluta, tentando com muito empenho descartar
noções como: ser e não-ser, dentro e fora, similaridade e diversidade, etc. Ao
mesmo tempo, os cientistas estão tentando descobrir o relacionamento entre os
dois tipos de verdades representadas pelos dois tipos de ciência, porque ambas
podem ser testadas e aplicadas na vida.
Na
ciência, a teoria deve ser testada de diversas formas antes de poder ser aceita
pela comunidade científica. Buda também recomendou, no Kālāma Sūtra1
que
qualquer ensinamento e insight transmitidos por qualquer professor devem ser
testados por nossa própria experiência antes de poderem ser aceitos como
verdadeiros. O verdadeiro insight, ou visão correta (S: samyag-dṛṣṭi, C:
正見), tem a
capacidade de libertar, e trazer paz e felicidade. As descobertas da ciência
também são insight, elas podem ser aplicadas em tecnologia, mas podem ser
aplicadas também em nosso comportamento cotidiano para melhorar a qualidade de
nossa vida e felicidade. Os budistas e cientistas podem partilhar uns com os
outros suas formas de estudar e praticar e podem se beneficiar dos insights e
experiências uns dos outros.
As
práticas da consciência plena e da concentração sempre trazem insight. Elas
podem ajudar tanto budistas quanto cientistas. Os insights transmitidos por
praticantes realizados como Budas e bodisatvas podem ser uma fonte de
inspiração e apoio tanto para os praticantes budistas quanto para os
cientistas, e testes científicos podem ajudar praticantes budistas a
compreenderem melhor, e terem mais confiança no insight que eles receberam de
seus professores ancestrais. É nossa crença que neste século 21 o budismo e a ciência possam caminhar de mãos dadas
para promover mais insight para todos nós e proporcionar mais libertação,
reduzir a descriminação, separação, medo, raiva e desespero no mundo.
No belo
cenário de Plum Village, do primeiro ao vigésimo primeiro dias de junho de 2012,
com Thich Nhat Hanh e a Sanga de Plum Village, cientistas e budistas praticarão
juntos sentados, andando, e partilhando suas experiências e insights uns com os
outros. As práticas da consciência plena e da concentração podem ajudar
cientistas a serem melhores cientistas e, desta forma, o budismo poderá atuar
como uma fonte de inspiração, sugerindo direções para investigações e
descobertas futuras. Por outro lado, nós exploraremos como as descobertas
científicas podem ser úteis, não somente para desenvolver tecnologia e melhorar
nosso conforto material, como também para reduzir o sofrimento de indivíduos,
famílias e sociedade. Este retiro trará muita alegria e confiança a ambas as
tradições, enquanto descobrimos que a boa ciência e o bom budismo podem ser
e fazer muito para o bem estar do mundo.
1 Aṅguttara Nikaya 3.65
*Inscrições e mais informações estão disponíveis no link: